Duas semanas. Foi o tempo
necessário para convencê-la, mas ele jamais perdia as esperanças, pois confiava
demais no seu talento. E o que são os anos de estrada, dia após dia?
Prestes a fazer, ele pediu,
ainda muito solícito, que ela permanecesse calma e respirasse profundamente
pelo nariz. Não economizou no uso de uma pasta branca lubrificante, cuja
mensagem no rótulo da lata garantia um sabor agradável de morango. Primeiro
besuntou bem os dedos da mão direita, depois a palma, as costas e o pulso. E,
enquanto iniciava metodicamente o ritual, sua mão esquerda também ajudava,
contribuindo com um cafuné delicado e estratégico na nuca macia e loira da
mulher.
Introduziu lentamente os
dedos, um a um, e foi forçando a palma da mão. Logo em seguida, o pulso e o
antebraço, deixando de fora apenas o cotovelo. Girou de jeito, atingindo enfim
o estômago, como queria. Moveu os dedos para os lados até conseguir. Teve um
pouco de dificuldade, mas, com a prática que tinha, localizou. Segurou firme
entre as pontas dos dedos e começou a tirar. Bem devagar, para não
traumatizá-la e estragar o objetivo da empreitada. E ela conseguira resistir,
heróica e bravamente, com as pernas seguras sem balançar, o corpo relaxado e
firme, mantendo na garganta o controle da própria ânsia.
E assim, quando se viu livre
do que a impedia de falar, teve condições de perguntar se ele havia conseguido.
No exato instante em que começou a ouvir um barulho estranho vindo do seu
próprio estômago, um misto de ronco de fome com o som de ralo de tanque de
lavar roupa esvaziando. E ele, na palma da mão ainda lambuzada, úmida e aberta,
exibia o que conseguira trazer: uma pequena tampa plástica branca igual às de
algumas pias de cozinha.
A coisa começou relativamente
rápida. Sem entender muito o que lhe acontecia, ela primeiro perdeu a voz e a
cor da pele do rosto. Depois, pasma, assistiu seu abdômen ir murchando,
murchando até seu corpo ser sugado para dentro de si mesma, sumindo, sumindo,
sumindo. Deixando apenas um som fininho, como um assovio, e um pequeno orifício
meio cinza suspenso no ar.
Ele, por segundos, ficou
admirando o pequeno efeito do rastro deixado pela sua mais recente conquista,
até que, rindo satisfeito do próprio êxito, selou o orifício com a pequena
tampa que ainda ocultava na mão. E, num gesto de destreza, apanhou-os no ar,
orifício e tampa, e rapidamente os guardou numa garrafa transparente com tampa
de cortiça. Guardou-a num armário, ao lado de outras dezenas de garrafas com conteúdo
similar. Aos pés de uma das portas do armário, uma pequena placa metálica com
uma palavra impressa que talvez indicasse algo significativo: “Preciosidades”.
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