O homem calvo que atirava
pedras a esmo estava de mãos vazias e mantinha as palmas das mãos viradas para
o céu. Com um dorso nu amorenado, tinha as pernas das calças arregaçadas até a
altura dos joelhos. Apesar de ele não demonstrar que estava prestando muita
atenção no tempo, nuvens cinzentas prenunciavam algo iminente.
Num lindo vestido branco de
renda, Maria Alice esboçava um sorriso tímido e forçado e não chorava mais, mas
no rosto e nos olhos ainda exibia marcas de tristeza. Sentada num dos degraus
da escada da igreja, mantinha as mãos espalmadas juntas e presas entre os
joelhos. Ela olhava para o homem que atirava pedras a esmo, mas ele parecia
ignorá-la.
O menino, que observava tudo
curiosamente, tinha o rosto sujo de barro, estava descalço e guardava as mãos
nos bolsos de trás da sua bermuda de sarja cáqui junto com o bodoque de
forquilha de goiabeira com as tiras de borracha de câmara de pneu de bicicleta
enroladas em volta das extremidades da forquilha. Seus olhos mantinham-se fixos
em Maria Alice.
O estranho homem de roupa
branca e óculos escuros, que parava o tempo com estalos de dedos, exibia um
sorriso suspeito de canto de boca e me olhava como se quisesse dizer algo. Na
porta da igreja, ele mantinha erguido o braço direito cuja mão estalava os
dedos entre o anelar e o polegar.
O último estalo de dedo ficou
ecoando durante um bom tempo dentro da igreja e os pingos de chuva começaram
antes do último eco. A chuva engrossava
aos poucos e ia borrando a tinta ainda fresca.
O cheiro de terra molhada
misturava-se ao da tinta acrílica. E muito antes de o homem que atirava pedras
a esmo, Maria Alice e o estranho homem de roupa branca e óculos escuros se
desfigurarem, o menino que observava tudo curiosamente correu, fugindo da
chuva. Na fuga o bodoque caiu no chão enlameado, quando o menino tirara as mãos
dos bolsos de trás da sua bermuda de sarja cáqui.
O menino parou de correr e
voltou para apanhar o bodoque, foi então que ele olhou para mim e sorriu. A
chuva começava a nos desfigurar simultaneamente… Não doía. Nada. E tudo ia
ficando branco, branco, branco...
Era o encerramento do
Capítulo 43, cena 2, sem diálogos.
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